ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO

AUTOR: Pedro Valdir da Conceição
ORIENTADORA: Simone Becher Araujo Moraes

RESUMO

O objetivo deste texto é realizar uma reflexão sobre algumas procedimentos teórico metodológicos sobre o ensino de filosofia no ensino médio. Neste trabalho nos propomos investigar alguns métodos desenvolver uma investigação sobre como ensinar filosofia nas turmas de ensino médio. Nesse sentido, a presente pesquisa seguiu a metodologia de estudo bibliográfico com levantamento de dados e posteriormente, análise das questões levantadas. Nesse sentido, destacamos alguns autores que orientaram essa pesquisa, como Gallo(2002), que afirma que ensinar filosofia é correr risco, mas é também abrir para diversidade, a diversidade de ideias, de pensamentos, mas é acima de tudo um exercício de criatividade. Assim, recorremos a Murcho (2002), que defende que a filosofia é diferente das demais disciplinas por não conter um corpo próprio, mas por perpassar por todas as demais disciplinas. Também buscamos o apoio em Chauí (1992), que destaca que a filosofia deve ajudar na desalienação que a mídia impõe ao ser humano em nome do progresso tecnológico. Nessa linha de pensamento, temos como resultado uma juventude alienada em nome de pensar aquilo que já foi pensado. Uma alienação ao qual se justifica pela falta de exercitar o pensamento para formular novos conceitos. Dessa maneira, concluímos que ensinar filosofia é ensinar a aprimorar as capacidade de análise, observação e questionamento do aluno.

Palavras-chave: Filosofia no ensino médio. Professor de filosofia. Ensino de filosofia.


SOME REFLECTIONS ON THE PHILOSOPHY OF EDUCATION IN SECONDARY EDUCATION

ABSTRACT


The purpose of this article is to reflect on some methodological theoretical procedures on the teaching of philosophy in high school. In this article we propose to investigate some methods to develop a research on teaching philosophy in high school classes. In this sense, this research followed the bibliographical study methodology with data collection and later analysis of the issues. In this sense, we highlight some authors that guided this research, as Gallo (2002) which states that teaching philosophy is at risk, but is also open to diversity, diversity of ideas, thoughts, but it is above all an exercise in creativity .  So we turned the withered (2002) which argues that the philosophy is different from other disciplines because it contains his own body, but permeate through all the other disciplines. We also seek the support in CHAUI (1992) which highlights that philosophy should help the alienation that the media imposes on the human being in the name of technological progress. In this line of thought, we have resulted in an alienated youth in the name of thinking what was once thought. An alienation which is justified by the lack of training the mind to formulate new concepts. Thus, as we draw the conclusion that teaching philosophy is to teach how to think, not what was thought, but think of what needs to be changed, the student work out in search of the new building towards a single goal.
Keywords: Philosophy in high school. Professor of philosophy. Teaching philosophy.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é resultado de investigação acerca do ensino de filosofia no Ensino Médio, cujo objetivo é realizar algumas reflexões sobre sua prática nas turmas de ensino médio, bem como, algumas metodologias de ensino de filosofia, tendo a seguinte questão como delineadora de pesquisa: Por que ensinar filosofia no ensino médio?
A partir dessa questão foram realizados alguns estudos, tendo como objetivo investigar sobre o ensino de filosofia no ensino médio. Para cumprir com o objetivo da pesquisa, alguns conceitos sobre o tema foram encontrados nos autores que destacamos abaixo:
Inicialmente, Gallo (2002) destaca que ensinar filosofia é “correr risco”, mas é também abrir para diversidade, diversidade de ideias, de pensamentos. Ensinar filosofia é acima de tudo um exercício de criatividade. Da mesma maneira que foi recorrido a Gallo, também buscamos o entendimento no que Murcho (2002) diz sobre o assunto. O autor defende que a filosofia diferente das demais disciplinas por não conter um corpo próprio, mas por perpassar por todas as demais disciplinas, pode aparentar não ter suas especificidades, não obstante, existe um modo próprio e muito particular de trabalhar com os conceitos filosóficos, ainda que as outras áreas do saber façam parte do mesmo.
Também buscamos nas ideias de Chauí (1992) que diz que a filosofia deve ajudar na “desalienação” que a mídia impõe ao ser humano em nome do progresso tecnológico.
No que diz respeito ao aspecto metodológico utilizado para este estudo, destacamos o uso de análise de conceitos de modo exploratório, tendo por base a pesquisa bibliográfica referenciada nas produções que versam sobre a temática em questão. Nesse sentido, configuram-se como materialidades bibliográficas: teses, dissertações e livros, bem como alguns documentos das Políticas Públicas para a educação.  A escolha de uma Investigação de cunho bibliográfico se deu a fim de compreender algumas das principais metodologias de ensino para as aulas de filosofia no ensino médio.
Entretanto, este estudo não se apresenta como um arcabouço de respostas prontas para resolver os problemas no ensino de filosofia, visto que não há como encontrar um receituário para o ensino da disciplina, mas se constitui como uma tentativa para realizar algumas reflexões e propor algumas sugestões para ensino filosofia no ensino médio.
Esta pesquisa justifica-se pela necessidade de desenvolver o ensino de filosofia não como conteúdo, mas como elemento que se faz necessário dentro do currículo escolar. Por entender que o ensino é capaz de proporcionar mudanças, não só no pensar filosofia, mas na atuação nas demais áreas do conhecimento, associado as diversas realidades vivenciadas pelos educandos nas suas especificidades com diálogos abertos, aos quais devem ser provocados pela capacidade de questionar sua atuação como ser humano no mundo, buscando elementos suficientes para agir na realidade.
Desta forma, ensinar filosofia vai além do ato de ensinar, mas de unir teorias com realidade. Muito mais, se justifica aprender filosofia ensinando pelo mesmo fato de que ela se tornou obrigatória. Ao se tornar legitima ela não deve ser compreendida como apenas mais uma disciplina, mas sim atuar como uma possibilidade a mais para os alunos a aprenderem, serem mais críticos e refletirem amis sobre o mundo em que está inserido.

2 A FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO: HISTÓRIA, CONCEITOS E DESAFIOS

Para dar início a reflexão sobre o ensino de filosofia no ensino médio, recorremos a lei nº 9.394/96 a que trata diretamente das questões das Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Nessa lei, em seu art. 1º define que “a educação deverá abranger os processos que se desenvolvam na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” Brasil (1996. Art. 1º).
Assim, é preciso dar uma volta ao passado sobre o ensino de filosofia. Para tal, nos reportamos aos anos 60. Nessa década, a disciplina de filosofia foi extinta dos currículos escolares por força da ditadura militar, a qual não considerava a disciplina importante ou de relevância, principalmente em função do seu caráter questionador e crítico o qual poderia causar uma certa desestabilização dentro do regime que estava vigente no Brasil. Aranha (2001) destaca que mesmo com sua extinção, a luta para que ela retornasse aos currículos escolares se prolongou por muitos anos numa busca constante travada pelos principais pesquisadores, professores e intelectuais brasileiros.
A obrigatoriedade da disciplina nos currículos escolares tomou corpo com a proposta do “Padre Roque” que propunha mudanças na Lei de Diretrizes e bases da Educação (LDBEN) através do projeto de lei 3.178/97. No ano de 1999 ela foi apresentada nos Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda não efetivada como disciplina, mas como sugestão de ser trabalhada na forma de tema transversal. Mesmo que as lutas pelo para seu retorno nos currículos escolares fossem grandes, faltava uma clareza e sistematização sobre que trabalhar e, que tornasse possível sua articulação com as demais disciplinas.
Nesse sentido seguia um esvaziamento e uma falta de identidade da disciplina, fator que deu espaço para que muitos profissionais de outras disciplinas, sem a formação específica em filosofia assumissem o ensino de filosofia. Com isso, a disciplina tornou-se vaga de investigação, empobrecida e sem consistência, não obtendo grandes avanços na construção do conhecimento específico da área. Essa mesma falta de formação dos professores fazia deles uma espécie de profissional que tinha o objetivo de lecionar filosofia, mas não de ensinar os alunos a filosofar. Diante disso, muitos anos se passaram e, entre encontros e desencontros, a disciplina de filosofia retornou ao currículo do Ensino Médio sobre o parecer 38/2006 que diz:

Em um ano, professores de escolas públicas e privadas terão que ensinar mais de nove milhões de alunos a refletir sobre as situações cotidianas. O ministro da Educação, Fernando Haddad, homologou [...] o parecer nº 38/2006 do Conselho Nacional de Educação (CNE), que torna obrigatório o ensino de sociologia e filosofia no ensino médio. Os estabelecimentos terão um ano para se adaptarem à nova exigência (BRASIL, 2006, p.1).

No sentido de quebrar o tabu sobre o ensino de filosofia sem refletir sobre a realidade, mas se voltar no ato de ensinar de forma crítica e reflexiva e transformadora, isso seria o que a disciplina de filosofia deveria assumir. Uma educação onde seu ensino apresenta-se bem fundamentado nos diálogos interdisciplinares e, em harmonia com as demais disciplinas. Ao adentrar nas ideias de Freire (2003), encontra-se, que o ato de ensinar é um ato de amor e, por isso não tem como temer a realidade. Não há como fugir da discussão criadora sob a pena da educação se tornar uma farsa.
Ao refletir sobre o pensamento freireano, percebe-se que o professor de filosofia deve passar por alguns enfrentamentos, a fim de, ensinar filosofia de forma significativa. É na discussão sobre a realidade que nos vemos como ser humano pensante com a capacidade de modificar-se pela habilidade de refletir e de avaliar as arbitrariedades da sociedade. Nesse sentido, ou somos educadores, mediadores de uma educação transformadora, ou ficamos acomodados e continuaremos ensinando sem conexão com a realidade, sem objetivos claros e definidos.
Dessa maneira, ensinar filosofia também é aprender a filosofar. O objetivo do professor de filosofia não é o de ensinar as histórias, nem de tornar a disciplina sem conexão com as demais. Nem é tarefa de ensinar ideias fixas conteúdos estanques, mas é sim, tarefa de ensinar e de ajudar o educando a formular conceitos e a pensar sobre os mesmos. Ensinar o educando a pensar e criar seus próprios conceitos, assim como, saber utilizar de forma autônoma os conceitos já formulados pelos alguns filósofos, sem abrir mão da tradição filosófica e de todo o conhecimento que já foi construído.
Posto isto, a sociedade cria expectativas frente à escola, crente que a escola não será uma instrumentalizadora, mas uma instituição que aliada a família dará continuidade ao processo formativo previsto para todas as fases da educação escolar. Nesse sentido, qual é o papel da educação escolarizada como processo de socialização?
O que observa no ensino escolar é uma certa desmotivação do educando em querer aprender, querer pensar. Sendo assim, se torna mais fácil para o educando, acreditar naquilo que a mídia coloca como verdadeiro de que refletir sobre a realidade vivenciada na sociedade contemporânea, se tornando presa fácil da alienação.
Que sentido tem para os jovens na atualidade em mergulhar nos estudos e formular seus pensamentos próprios quando é possível viver como telespectador dos acontecimentos? Por vez, o jovem é imediatista, no sentido de querer que as coisas aconteçam no mesmo instante. Surge facilmente a decepção dos mesmos, pois os resultados nem sempre são imediatos. Então, vem a questão, como ensinar filosofia em tempos de globalização? Para contribuir com essa reflexão buscamos em Gallo (2002) a seguinte afirmação:

Em suma, ensinar filosofia é um exercício de apelo a diversidade, ao perspectivismo, é um exercício de acesso a questões fundamentais para a existência humana; é um exercício de abertura ao risco, de busca da criatividade, de um pensamento sempre fresco, é um exercício da pergunta e da confiança, da resposta fácil. Quem não estiver disposto a tais exercícios dificilmente encontrará prazer e êxito nessa aventura que é ensinar filosofia” (GALLO, 2002 p. 199).

Nesse caso é importante que o educando se esforce para compreender os conceitos formulados pelo filósofo e sobre tudo, estar disposto a aprender filosofia. O método usado pelo professor de filosofia e importante, mas não é a garantia de que o ensino se efetive. Goldschimidt (1963) afirma:

Parece que não havia duas maneiras de interpretar um sistema, ele pode ser interrogado, seja sobre sua verdade, sua origem; pode se pedir-lhe que dê razões, ou buscar suas causas. Mas, nos dois casos, considera-se ele, sobretudo, como conjunto de teses, de dogmata. O primeiro método, que se pode chamar dogmático, aceita sob ressalva a pretensão dos dogmas a serem verdadeiros, e não separa o léxis (A latente) da crença, o segundo que se pode chamar genético, considera os dogmas como efeitos, sintomas de que o historiador deverá escrever a etiologia (fatos econômicos e políticos, constituição sociológica do autor, suas leituras, sua biografia intelectual ou espiritual, etc. (GOLDSCHIMIDT,1963, p. 139).

Ainda continua a dúvida, como ensinar filosofia? Concordando com o pensamento dos filósofos que no passado já buscavam entender as causas e as razões. Acredita-se, que não dá para dissociar nem a teoria nem a prática, ambos devem servir para entender a filosofia do passado e construir conceitos que sirvam para atualidade.
Kant (1979) diz que não se ensina filosofia, mas a filosofar. Da mesma forma, esse filosofar deve transitar pelas demais disciplinas fazendo da disciplina de filosofia uma disciplina não centralizadora, mas de transitoriedade.
Dessa maneira, a disciplina de filosofia, além de perpassar pelas demais disciplinas, deve favorecer o diálogo, a inquietação e principalmente a afirmação da autonomia do educando. Com isso, cabe aos educadores criar estímulos, usar metodologias que ajude na transposição de saberes filosóficos e principalmente que leve o educando a refletir sobre quem ele é, e qual é sua função na sociedade. A filosofia, é nesse sentido capaz de oferecer subsídios muito rico de apoio a reflexão dos educandos. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino de filosofia no ensino médio, Brasil (2002) cita como destaque o papel do professor conforme descrito a seguir.

Nesse sentido, para o professor, nem mesmo, o conteúdo programático deve estar excluído do debate com o aluno, ao contrário, é mesmo desejável que na medida do possível, este possa manifestar-se, fazer opções, discutir encaminhamentos e, quem sabe até metodológicas, e materiais didáticos. (...) Para o aluno por sua vez, aprenda a negociar seus interesses no conjunto de outras preferencias, é uma das mais ricas conquistas da aprendizagem. Como em tudo o mais depende muito de que o professor seja capaz de uma dedicada abertura pedagógica. (...) na qual o debate sistematicamente conduzido tem lugar de destaque (BRASIL, 2002, p. 346)

Ensinar filosofia numa perspectiva transformadora, requer rigorosidade metódica para que consiga assumir um nível de educação para construção de saberes que permita aos educandos a condição de formular conceitos próprios, e que propicie a capacidade de refletir e de enfrentar as adversidades da vida e da sociedade. Por tanto, essa rigorosidade não tem nada a ver com o discurso de uma “educação bancária”, transferidora de conteúdo (Freire 2011, p. 28).
Se faz urgente refletir sobre algumas práticas que não deram certo e propor outras novas que possibilitem a formação de um ser humano autônomo, com a capacidade de fugir das armadilhas da alienação. Uma educação que sugira conexões entre o saber formal e o conhecimento concreto. Nesse sentido, há um grande desafio entre o saber específico e o saber relacionado entre os demais saberes. Conforme Chauí (2000, p. 17): “Podemos dizer que a filosofia é o mais útil de todos os saberes humanos”.
Assim, a fundamentação pedagógica da filosofia no ensino médio, não pode e não deve se apresentar dissociada da sua finalidade, no contexto da educação básica. Saber o que ensinar e como ensinar. Percebe-se que esse é um grande desafio para os professores de ensino de filosofia no ensino médio. Olhando superficialmente não parece ser tão difícil realizar esses procedimentos, mas refletindo um pouco, vimos que afirmar essa condição é bem mais complexa.
A sociedade passa por imensas transformações sociais e tecnológicas, as quais precisam ser problematizadas nas aulas de filosofia para que se realizem verdadeiras práticas de transformação. O professor de filosofia, nesse sentido, deve acompanhar as mudanças socioeconômicas e tecnológicas transpondo essas para sua prática de ensino.
Na sequência, procuramos abordar alguns elementos a fim de proporcionar diálogo sobre o ensino de filosofia na sociedade em transição. Elemento esse, a qual julgamos importante na prática pedagógica
2.1 Alguns saberes e práticas do Ensino de Filosofia para o Ensino Médio

Falar de prática de filosofia no ensino médio requer um olhar especial para o mesmo. Primeiro, por que exige uma reflexão sobre as práticas defendidas sob a ótica de alguns autores. Segundo é necessário que consigamos realizar reflexões sobre a ideia defendida e a prática vivenciada pelos educandos dessa modalidade de ensino.
Buscando uma abordagem sobre saberes do ensino e aprendizagem de filosofia no currículo escolar. Segundo Quero (2005), a utilização do termo saber é recente nas produções científicas, observando que entre os anos de 1956 e 1961 não foi encontrado nenhum título de artigo que utilizasse o termo “saber” em algum boletim científico internacional.
Mas o que seria então esse saber seria mesmo novo? Novo para ciência, mas não na construção do ser como pensante, como atuante na sociedade. Sujeito com história de vida única no processo de transformar e transformar-se, um ser com capacidade de aprender na prática e na vivência diária.
Com bases nessas questões, partimos para reflexão sobre o ensino de filosofia no ensino médio na sociedade contemporânea. Gonçalves (2007) afirma.

Os professores de Filosofia, diante dessa nova realidade, além de pensar sobre o ensino de Filosofia, deverão refletir sobre outros problemas como a questão da formação específica, devido à carência de professores formados em Filosofia para atender a toda a rede de escolas, à manutenção dos cursos de Filosofia existentes, à abertura de novos cursos e, acima de tudo, à valorização e reconhecimento deste profissional (GONÇALVES 2007, p. 02).

Nesse sentido, pensar filosofia requer além do mais, um pensamento filosoficamente, ser comprometido com o ato de filosofar concordando com as palavras de Gonçalves.
Sendo assim, ensinar filosofia exige muito de quem ensina de que quem aprende. Mais ainda, de quem aprende no ato de ensinar por que quem ensina deve aprender ensinando se isso não acontecer não há um ensino constante nem uma aprendizagem efetiva. Conceituar que ensinar filosofia, vai além da transmissão de conteúdo e de conceitos. Ensinar filosofia requer que o sujeito a ser ensinado esteja disposto a aprender da mesma forma que quem ensina aprenda ensinando. Assim, não há como descolar do processo de ensinar a capacidade de aprender, de saber relacionar a filosofia com as demais disciplinas visto que não se encontra isolada.
Nas palavras de Ceppas (2002) verificamos algumas orientações para o ensino de filosofia.
“[...] a de ser um discurso originário da e voltado para a prática, sem que se conduza sequer uma distinção esquemática entre teoria e prática, quanto mais uma prioridade da prática sobre a teoria... seja como for, neste sentido de uma urgência que advém da prática [...]” (CEPAS, 2002, p. 88).

Ensinar filosofia numa prática democrática de ensino em primeiro lugar deve ser respeitado os conhecimentos produzidos pelos sujeitos na sociedade levando os mesmos a despertar para construção de outros novos, a partir da realidade e do diálogo com a mesma e com outros autores conforme a condição de cada sujeito de pensar de dialogar com as situações reais. Uma outra questão a considerar no ensino de filosofia advém da reflexão por parte do professor no sentido de saber o que fazer na sua prática pedagógica. Aí está o fundamento do ensino de filosofia. De nada adianta ter sujeitos pensantes sem que a eles seja concedido a oportunidade de expor seus pensamentos, de participar ativamente como sujeito de proporcionar mudanças concreta para si e para o meio em que vive.
Ensinar filosofia diz respeito a realização de um exercício subjetivo de busca, de compreensão, de recolocação e de encontro com a realidade e o mundo ao seu redor. Desse modo, a pergunta é qual didática devemos seguir, didática geral, ou própria do ensino de filosofia? Acredito que o mais importante e que aconteça um ensino onde a democracia seja respeitada e vivenciada por ambos, professor e aluno numa construção de pensamento próprio para fins coletivo. Por tanto, esse é um dos desafios de ensinar filosofia numa sociedade onde há muita informação e pouca reflexão, sobre isso. Quanto a esse assunto, Murcho (2002) destaca que

{...} a Filosofia não tem um corpo imenso de conhecimentos que tenhamos de adquirir. Isso desorienta o estudante e o professor, porque não encontram na Filosofia o tipo de conteúdo que se encontram na história, na física ou na matemática. Na História, há acontecimentos que têm de ser compreendidos; na Física, leis e fórmulas; na Matemática, teoremas e axiomas e regras (MURCHO,2002, p.14).

Concordando com as palavras de Murcho, o professor de filosofia deve uma boa clareza sobre o ensino de filosofia, mas, além de tudo, a compreensão do que está ensinando, na busca de encontrar a melhor metodologia de ensino para que a disciplina se faça compreensível. Nessa linha de pensamento Gallo & Kohan (2000) dizem que

(...) A própria prática da filosofia leva consigo o seu produto e não é possível fazer filosofia sem filosofar, nem filosofar sem fazer filosofia (…) porque a filosofia não é um sistema acabado nem o filosofar apenas a investigação dos princípios universais propostos pelos filósofos (GALLO; KOHAN, 2000, p. 184).

É difícil ensinar filosofia sem saber um pouco das demais disciplinas por que o professor não irá encontrar respostas acabadas para nem uma pergunta, mas é possível dialogar com ela e com as demais disciplinas, criando uma gama de questionamentos que eleva seu pensamento e sua capacidade de raciocinar e de pensar filosofia não só como disciplina, mas como oportunidade de dialogar a realidade. Penso que seja essa capacidade que Murcho destaca que é o educador precisa saber para ensinar filosofia. Nesse sentido, MURCHO (2002) faz a seguinte asserção:

Não podemos estudar filosofia da arte, sem nada saber de arte; não podemos estudar filosofia da linguagem, sem nada saber de linguística; não podemos estudar metafísica, sem nada saber de lógica; não podemos estudar filosofia da ciência sem nada saber de ciência (MURCHO, 2002, p 14).

A seguir vimos nas palavras do mesmo autor o destaque de que quando o ensino é de qualidade, o estudante aprende e compreende melhor a disciplina, e, assim sendo, o aluno sai sabendo, pensar por si próprio.

Quando o ensino da Filosofia é de qualidade, como raramente é em Portugal, o estudante sai da disciplina sabendo pensar com mais clareza, sabendo traçar distinções, sabendo detectar e evitar erros de raciocínio, sabendo avaliar opiniões opostas e a tomar decisões informadas e refletidas. Como é evidente, isso é de importância fundamental para a vida pública e cultural de qualquer sociedade (MURCHO 2002, p 15).

O ser humano, diferente dos animais é capaz de pensar, de refletir e de agir, é capaz de construir conhecimentos. Nesse sentido, todo ser humano tem a capacidade de construir conhecimentos sem precisar repetir o que já foi pensado. Nessa linha encontramos em GRAMSCI (1982) a seguinte asserção:

(...) Todo homem, fora de sua profissão, desenvolve uma atividade intelectual qualquer, ou seja, é um “filósofo”, um artista, um homem de gosto, participa de uma concepção do mundo, possui uma linha consciente de conduta moral, contribui assim para manter ou para modificar uma concepção do mundo, isto é, para promover novas maneiras de pensar (GRAMSCI, 1982, p. 6).

Entendo que a construção de novos conceitos, depende da metodologia usada pelo professor de filosofia. O professor de filosofia precisa ensinar o aluno a pensar. Ensinar a não repetir o que os filósofos já pensaram. Penso que assim terá a formulação de um pensamento novo sendo pensado com objetivo de proporcionar mudanças no ser humano e na sociedade com através de sua capacidade de intervenção. Chaui (1992) afirma:

Vivemos num mundo dominado por aquilo que a ideologia dominante convencionou designar como “progresso tecnológico”. Resultado da exploração física e psíquica de milhares de homens, mulheres e crianças, da domesticação de seus corpos e espíritos por um processo fragmentado desprovido de sentido, da redução de sujeitos à condição de objetos sócio-econômicos, manipuláveis politicamente e pelas estruturas da organização burocrático-administrativa, o “progresso” seqüestra a identidade pessoal, a responsabilidade social, a direção política e o direito à produção da cultura por todos os não-dominantes  (CHAUÍ, 1992, p.56-57).

Por tanto, todo o ser humano é pensante, e tem a capacidade de intervir na realidade, propondo mudanças. Porém, isso depende da sua capacidade de construir conceitos sobre diversos assuntos, advindos de sua vivência e inserção na realidade. Nesse sentido, não há como permitir que o ser humano viva como “Marionete” em prol do desenvolvimento socioeconômico. O ser humano precisa projetar uma realidade diferente. Por esses motivos tem o dever de libertar-se das armadilhas ideológicas e ter sua autonomia como ser humano que dispõe de identidade própria.


3 CONCLUSÃO

Mesmo que a disciplina de filosofia ao longo de sua história tenha sido retirada do currículo escolar, a mesma voltou com a expectativa de ficar. O desafio de mantê-la como disciplina que se diferencia das demais apesar de ter um pouco de cada uma das demais disciplinas, está no que e como o professor deve ensinar e seu objetivo para as aulas de filosofia.
O Ensino Médio geralmente, considerado pelos educadores como a fase de consolidação do aluno jovem, da sua personalidade e seus desejos. Nesse sentido, a filosofia apresenta um papel bastante importante e fundamental numa perspectiva de colaboração. A Filosofia é bastante questionada enquanto disciplina, é necessário que os educadores se conscientizem de que o ensino não deve ser considerado como uma disciplina a mais a ser ensinada. É importante que o professor que tem a responsabilidade de aplicar tal disciplina tenha em mente o quanto é necessário fazer com que seus alunos não fiquem dependentes de livros didáticos, no sentido de não tender para as famosas “decorebas”.
A Filosofia é fundamental na vida de todo ser humano, visto que proporciona a prática de análise, reflexão e crítica em benefício do encontro do conhecimento do mundo e do homem. Partindo dessa linha de pensamento, acreditamos que não há uma receita pronta para ensinar filosofia. Os educadores que se preocupam com a melhor forma de ensinar a Filosofia, penso que deva seguir e priorizar práticas que favoreçam a formação de jovens capazes de desenvolver seu próprio pensamento crítico.
Muitos são os conceitos sobre os saberes filosóficos que se encontram prontos. O professor precisa permitir e fornecer meios para que os alunos pensem e filosofem. É pertinente que o professor de filosofia ensine, não apenas lendo os textos, periódicos, artigos, entre outros que estão prontos, não que seja errado, mas que eleve o aluno a transpor esse estudo para sua realidade criando novos conceitos sobre o assunto estudado, analisando, criticando e formulando novas ideias.
Se faz urgente que o professor respeite os conceitos já formados pelos alunos sem deixar cair na repetição, mas que os mesmos tenham a oportunidade de criar, e pensar a realidade, numa perspectiva de mudanças através dos próprios atos e intervenções. Assim, se faz necessário uma renovação em metodológica de ensino por parte do professor proporcionando aos educandos maior interesse em aprender.
Gallo (2002) diz que não é possível fazer filosofia sem filosofar e nem filosofar sem fazer filosofia. Nessa perspectiva, é possível fazer filosofia e filosofar ao mesmo tempo como práxis de um processo continuo de pensar e agir. Pois é esse pensar e agir que torna os sujeitos educados para pensar filosoficamente ajudando a se construir e reconhecer-se como sujeito de seus próprios pensamentos.
Por fim, aprender filosofia não é, e nem pode ser dissociado do ato de ensinar, pois aprendendo se ensina e ensinando se aprende. O professor de filosofia precisa criar as condições necessárias para que o aluno filosofe, o que significa dar uma certa dimensão as questões da filosofia no que ela tem trabalhado historicamente, ou seja, dar uma certa atenção a uma dimensão do pensamento que a filosofia tem trabalhado historicamente, a dimensão do conceito, a questão de como conceituar, o que acontece na sua volta, reconhecer sua identidade e o mundo. O aluno precisa saber conceituar o problema, entender o que é um problema, entender as diversas formas de pergunta e a relação entre a pergunta e problema, além do mais, experimentar as diversas maneiras de se perguntar e a diferenças entre ambas as perguntas. Acredito ser essa a condição necessária para o professor de filosofia trabalhar na dimensão do pensamento construído dizendo não para o conhecimento transmitido. Dessa maneira não há um método para ensinar e aprender, nem mesmo pensar, mas há uma oportunidade de desenvolver um ensino construído democraticamente.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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_______Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB nº 38/2006 de 07 de julho de 2006. Inclusão obrigatória das disciplinas de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio. Brasília, 2006.
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Comentários

  1. Muito legal Pedro ....conhecer o teu trabalho vinculado com o ato de ensinar e aprender filosofia

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  2. A reflexão sobre o ensino da filosofia se faz necessário para dar legitimidade a essa prática, a esse ensino, sobretudo no ensino médio.

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